Maria Celeste, 92 anos

Maria Celeste

92 anos

E ele respondeu que chega a uma altura em que é preciso amparo,

«Se pudesse voltar a ter uma idade qualquer das muitas que fui tendo, escolhia ter vinte anos. Era a idade da alegria, tinha força, não tinha problemas e tinha coragem para tudo. É o tempo da vida, mas também o tempo das ilusões. Achamos que sabemos tudo porque não conhecemos nada. Mas gostei, foi uma idade feliz, a idade das paixões. Apaixonei-me pelo marido aí, namorávamos à janela. Isto foi há tanto tempo, não é como agora. Naquele tempo era tudo diferente, precisávamos de autorização dos pais para namorar. Agora é tudo diferente, felizmente, se ficássemos presos no antigamente era um horror. Estivemos juntos 63 anos, contruímos uma família juntos, uma vida inteira. Não me arrependo de nada, recordo tudo com saudade. Mas não há só coisas boas, vocês sabem. A vida é feita de altos e baixos, momentos bons e momentos maus. É preciso falar, é preciso refletir e respeitar a outra pessoa, nos momentos maus é preciso falar até entendermos que está na hora de um momento bom. Aos 20 não tinha as dificuldades que tenho agora, agora resta-me pedir ajuda, faltam-me as forças, tenho de pedir que mas deem. É difícil pedir auxílio, mas chega a uma altura que não há hipótese. Eu sou muito afortunada, tenho quem me ajude a fazer o que não consigo. Sou muito feliz porque sou muito apoiada pelo meu filho e pelos meus netos. É só isso que quero até o dia em que vou partir.»

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