E ele respondeu que casamento é a vida depois do dia.
Casei por procuração. Apaixonámo-nos cá em Portugal, mas depois ele foi para a Moçambique, e como eu não podia ir ter com ele sem ser casada, casei, mas sem ele cá. O meu sogro fez de meu marido. Foi uma festa simples, foi só a família, mas era preciso casar e que soubesse que tinha casado. Assim fizemos. Já me perguntaram se gostava de ter feito uma festa com ele mesmo, entrar numa igreja e olhar para ele e não para outra pessoa, mas sinceramente, nunca me interessou isso. O que foi importante foi chegar lá e estar casada com ele. Ele foi me esperar e eu levei a aliança. Isso foi mais importante. Tivemos sempre juntos, o segredo foi esse, sermos companheiros. Voltar de Moçambique foi difícil, foi retroceder na vida. Tenho mágoas dessa altura, as pessoas não nos tratavam bem. Chamava-nos retornados, como se fossemos de menos. Até a família. Custou muito, foi recomeçar, retroceder. Nunca mais lá voltei, mas também nem tenho vontade, não iria encontrar o que lá vivi. Envelhecer para mim é o que se nota nas coisas simples: custa chegar às coisas, levantar, pegar coisas. Custa aceitar quando começamos a deixar de conseguir fazer o que sempre se fez. Mas faz parte. É a minha vida agora até ao dia em que calhar deixar de ser.
